Sala Mais linda do brasil

Sala Mais linda do brasil

HOLANDA, AMSTERDAM. 29/08/2010
       
Cheguei à Amsterdam na parte da manhã e liguei imediatamente para minha família avisando onde estava e quando voltaria (eu fugi literalmente). Nem acreditava que estava na Holanda, região histórica e conhecida com parte dos Países-Baixos. Caracterizada como país extremamente portuário, sua economia gira basicamente em torno do comércio  e turismo. A repulsão à Fraça é clara nos neerlandeses – assim são chamados os holandeses no próprio país – devido o território já ter estado sob domínio de Napoleão Bonaparte no período de 1806-1810. Sabendo disso não corri o risco de cometer nenhuma gafe.
        A fome apertava, mas primeiro tinha que encontar um local para ficar – viagem de última hora têm muitos imprevistos! Me hospedei em um abergue, porque é bem mais barato e pedi algumas informações na recepção do local. Ali conheci um grupo de jovens brasileiros que iria percorrer as principais cidades da Europa. Acabei fazendo amizade com eles. Eram dois meninos: Felipe, 18 anos, e Lucas, 15 anos,  do Paraná. Eles eram irmãos e junto estava sua prima Camila, de 16 anos. Nós quatro fomos a um restaurante próximo, chamado Ovidius Café, junto ao Magna Plaza (Rua Spuistrat 139),   que servia Appelgebak met slagroom, um tipo de torta de maçã com chantili vendida por menos de 5 euros e degustada com uma xícara de café expresso bem forte.
        Saindo do extremo doce para o hiper gorduroso, Lucas estava ansioso para provar as famosas batatas fritas com maionese, de Amsterdam. Uma bomba calórica. Os nutricionistas chamariam de loucura, eu chamei de delícia. Vendidas em um cone de papel a porção de batatas fritas cobertas de maionese são vendidas em barraquinhas de rua, como os espetinhos brasileiros. Essa gordura e perdição toda sai por menos de 2 euros.
        Refeições feitas, Camila sugeriu que fôssemos visitar um Canal tour. A Holanda é praticamente uma sobrevivente em meio à tanta água. Rodeada por canais construídos na época medieval, a cidade é um atratativo aos amantes de barcos. Na frente da Centraal Sattion saem tours que duram uma hora,  por uma bagatela de 10 euros. Com todo o tempo do mundo fomos navegar. A paisagem é de tiar o fôlego. Não sabia do que tirar foto primeiro. As pessoas, árvores, prédios antigos, bicicletas e mais bicicletas prendiam minha atenção e chegavam a me deixar tonta,  sem direção. Durante o passeio, descobri que os dois irmãos estavam fazendo a viagem para tentarem desvendar qual o rumo  tomar na vida. Felipe pretendia ingressar na Faculdade de Direito, mas não tinha plena certeza; e seu irmão gostava mesmo é de cantar e sonhava em tocar numa banda de rock. Camila foi só de acompanhante. Apesar de ter uma vida confortável no Brasil, eles também não tinham encontrado seus lugares, seus objetivos.
 Todos no mesmo barco – nos dois sentido da expressão – saimos do incrível passeio. Essa época do ano é outono aqui. As temperaturas são estáveis, variando de 10 °C até 22°C. Já as chuvas de momento são comuns. O Sol estava radiante no céu quando descemos do barco; dois minutos depois começou a chover relativamente forte. Com esse imprevisto e próximos ao museu de Anne Frank não despediçamos a oportunidade.
 Muita gente deve ter ouvido falar de o Diário da Anne Frank. Resumidamente,  a história dela é a seguinte: Anne era uma adolescente de 13 anos, judia, moradora de Amsterdam, quando ganhou de aniversário de seu pai um diário (dagboek). Logo depois dela ganhar o diário, os nazistas invadiram a Holanda e passaram a mandar os judeus para campos de concentração. O pai da Anne Frank resolveu que seria seguro se esconder, antes que chegasse a vez de eles serem presos. Eles fingiram que fugiram pra outro país, mas na verdade passaram a morar num anexo escondido atrás da empresa do pai dela. Viveram lá a família dela e mais algumas pessoas por uns dois anos, sem por o nariz pra fora, sem fazer barulho, compartilhando um único banheiro, em total confinamento. Uma hora,  eles foram descobertos, presos e enviados pra campos de concentração. Toda a família morreu, menos o pai dela. Quando a guerra acabou (dois meses depois da Anne Frank morrer), o pai dela voltou pra Amsterdam e descobriu que a filha manteve um diário durante toda a experiência. Ele editou e publicou o diário da filha, que acabou virando um best-seller e ela uma espécie de heroína nacional holandesa. A casa em que a família passou pela provação é hoje um museu aberto; e o que é melhor: conhecer a história ou a entrada ao museu ser gratuita? Os dois!!
Após a chuva ter passado, já eram 6 da tarde e eu não tinha visto nem a metade que Amsterdan tinha pra oferecer. No caminho de volta para o albergue vimos um dos poucos campos de tulipas. A época da primavera é em maio, então era meio remota a possibilidade de vermos uma das paisagens mais famosas da região. Felizmente existe a palavra possível e sorte em nossa jovem mente humana.
 O dia terminou perfeito logo depois que nós quatro fomos comer um Stroopwafel. Isso de nome inusitado é um biscoito dividido em duas metades grudadas por caramelo. Ele é servido em cima de uma xícara de café (já percebeu o quanto o café está presente na culinária holandesa?). O vapor do café dá aroma e amolece o biscoito. Sabor indescritível e exorbitantemente delicioso. A alegria deste dia e a  ansiedade pelo dia seguinte  não me deixavam dormir, mas o cansaço foi mais forte: fui vencida.