Sala Mais linda do brasil

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JAMAICA, KINGSTON. 17/08/10


A viagem de ônibus foi ótima, vista para o mar quase a viagem toda; não parei um minuto de escutar musicas no meu MP4.
As paisagens eram perfeitas e a música dava um ar de trilha sonora pra aquele espetáculo todo e ainda tinha o vento batendo em meus cabelos. Além do mais,  o nascer do sol esplendoroso em meio a uma mistura de praia com floresta, era incrível ver os animais da janela, uma variedade de iguanas e dava pra ver as focas e tartarugas marinhas em alguns pontos na praia.
                   Iguana-verde (risco de extinção)  
   

                          Tartaruga comum da Jamaica       
            

Floresta da Jamaica
Fiquei em um albergue; era mais barato e eu queria gastar o dinheiro na cidade. Então, deixei minhas malas e fui para o centro.
Na primeira manhã em Kingston, fui visitar o museu de Bob Marley, a casa onde ele morou nos últimos anos de sua vida, de 71 a 85, e onde gravou alguns de seus discos clássicos como Uprising.
Que emoção! O lugar enfumaçado preferido de Bob. No quarto de cima, a rede de onde ele escreveu algumas de suas músicas e onde se vê a cidade de Kingston e suas montanhas cheias de nuvens. Segundo o guia, que não permitiu ninguém tirar nenhuma foto ou filmar nada, o que importava mesmo para Robert Marley era a letra de suas musicas, a voz do povo que emanava delas.
Chorei vendo um vídeo que contava um pouco da história de seu bairro de Trenchtown, onde a maior parte das pessoas vive em government yards (barracões populares),  que vez ou outra enfrenta guerras entre si e com a policia. A sua música era a música sobre essas pessoas; não para destruir nada mas uma reconciliação positiva do estado e a vontade de viver e superar todas as dificuldades.






Religião e música são os elementos culturais mais emblemáticos da Jamaica. O país é berço do Rastafarianismo e da Reggae-music. A religião rastafari proíbe cortar os dreadlocks, (cabelos trançados), e a barba. É uma influência judaica. O rastafari inclue performances com tambores que resgatam ritmos africanos. Essa percussão está na raiz da criação do gênero de música denominado reggae-raiz. Bob Marley seguia a religiao do rastafarianismo.
Quando sai pelas ruas de Kingston, fiquei admirada com o lugar; havia turistas de todas as partes, tinha um bar cheio de japoneses, outro com americanos, e eu até vi alguns brasileiros.
Infelizmente eu vi brasileiros! Eles passavam por algumas barraquinhas, onde se vendiam pulseirinhas artesanais – que, por sinal eu já havia comprado umas 10 – e alguns deles, não se contentando em destruir o nosso próprio país, tentavam fazer isso com o país dos outros.
Esses brasileiros estavam roubando algumas pulseirinhas, e quando foram para a barraquinha de togas jamaicanas, distraíram o vendedor e roubaram algumas delas. Não suportei ver aquilo e fui na direção deles. Falei que os tinha visto e pedi para que eles devolvessem as coisas roubadas. Eles tentaram fingir que não tinham feito nada, mas eu não deixei: gritei (sou barraqueira, mas faço o certo) e mostrei para o vendedor as coisas roubadas. O vendedor pegou de volta e me agradeceu. Eu sabia que era um agradecimento, pois ele bateu no peito e isso na Jamaica é um tipo de obrigado.
Eu não percebi a gravidade do que acabara de fazer; estava sozinha na Jamaica com um grupo de três rapazes com “sangue nos olhos” de raiva pela minha atitude. Bastou uma olhada feia de um deles e eu corri. Pena, não adiantou. Eles me alcançaram e um deles falou que iria me mostrar o que acontecia com pessoas que falavam demais. Fiquei com muito medo na hora que a mão de um deles se levantou, mirando exatamente no meu rosto. Felizmente homem apareceu,  barrando o soco que iria levar. Bem coisa de filme mesmo. Os rapazes se viraram contra ele, mas o homem de dreadlocks enormes deu um soco bem dado no rapaz. Os outros não tentaram mais nada e sairam correndo.
Quando eu fui agradescer, uma surpresa...”MEEEEU DEEUS” ! Era Ziggy Marley. Filho de Bob Marley. Eu só gaguejava, nao conseguia falar nada; meu corpo agiu sem meu cerebro e, de imediato,  eu o abracei e bem forte. Ele nao parava de rir. A sorte é que tinha um tradutor com ele, pois ele estava em uma conferência com alguns brasileiros para exportar seu gibi para o Brasil.
Ele me chamau para ir à praia e eu nao pensei duas vezes.  Há alguns passos dali,  já na praia,  eu nao parava de fazer perguntas. O tradutor quase enlouquecia! Ziggy falou que estava fazendo um passeio pela capital para comprar alguma coisa para a filha, pois era aniversario dela. Ele falou que gostou da minha atitude. Fiquei encantada com a sinceridade e carinho dele.
Uma pausa: “Não cruze os braços diante de uma dificuldade, pois o maior homem do mundo morreu de braços abertos!”    [Bob Marley]

Ficamos ali sentados, à beira da praia, tocando violão e cantando canções até escurecer.
Para a minha surpresa, Ziggy me presenteou com seu quase terminado gibi “Marijuanaman”, que conta a história de um super-herói vindo de um planeta em que a THC (tetraidrocanabinol) está em extinção. Em razão disso, ele busca evitar a destruição dos campos de plantação na Terra, que tem como vilão da vez a empresa farmacêutica Pharmexon.
Achei muito criativo e como eu sou a favor da liberação dessa substância, não vi problema algum em aceitar o presente.
Já estava tarde e precisava ir para o albergue com os olhos cheios de lágrimas. Despedi-me de Ziggy e o agradeci novamente.
David Nesta Marley  “Ziggy Marley”é um dos 13 filhos de Bob Marley.